quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Erotismo moderno e antigo

Quais as razões para o encolhimento e até desaparecimento do sexo masculino no erotismo?

Depois de minhas provas na faculdade tenho tido bastante tempo livre. Esta é a primeira vez em minha vida que tenho tempo livre e internet no mesmo contexto. O resultado é óbvio: depois de muito trabalhar e pesquisar, usei a internet para seu verdadeiro fim: a pornografia.

Talvez o caso do juiz australiano tenha me atiçado a curiosidade para esse assunto, ou talvez seja mesmo a minha alma pútrida - ou a natureza de todo e qualquer ser humano. Mulheres, no entanto, realmente têm preferências diferentes daquelas do sexo oposto. Ainda mais porque o sexo oposto é tão diferente... Literalmente falando mesmo!

É claro que descobri que a pornografia na internet tem um índice muito maior de mulheres nuas do que de homens. Procurei por sites gays para limpar minha vista de tanta celulite e estria, mas a figura de homens maquiados e com jeitinho sapeca não chega a ser estimulante. Mas a gente sempre acha o que quer na internet. E cá estou eu fascinada pelas variadas formas, cores e tamanhos do sexo masculino - com seus vários estágios, inclinações e volumes.

Óbvio que a culpa se esgueirava pelo meu quarto tal qual um psicopata com uma serra elétrica nos primeiros minutos de um filme de terror. É inevitável ouvir as vozes masculinas berrando pela minha falta de decoro e as vozes femininas berrando pela falta de um representante físico do objeto do meu desejo. Falta de homem em uma mulher é sinal de incompetência, feiúra, egoísmo e covardia. Isso não é o que eu escuto dos homens, mas das mulheres. O que eu escuto dos homens entra por um ouvido e sai pelo outro. No dia que o Reynaldo Gianeccinni, o Gerard Butler ou o George Clooney me perguntarem se eu não prefiro "dar para eles" ao invés de procurar besteira na internet, eu respondo. Até lá eu vou manter o meu silêncio para não ferir o orgulho de ninguém.

É, mas pornografia acaba ficando chata depois de um tempo. Erotismo é mais chique e mais estimulante. Não tem como comparar a reação que a gente tem ao ver o entregador de pizza abrir o zíper e a loucura que é um guerreiro do Frank Frazetta. Até mesmo os traseiros flácidos das guerreiras do Frazetta são bonitos. Frazetta é um gênio da arte que glorificou a ilustração de fantasia e romantizou a celulite. Ele nem precisava ter sido tão lindo na juventude.

A arte erótica é uma covardia mesmo. Não existe palavra para descrever uma imagem que, de tão linda, o desejo convence a gente de que aquela imagem é realista. A gente quer tanto que aquilo exista que a gente acaba acreditando que existe mesmo.

Mas eu acabo voltando ao mesmo assunto do início do tópico. Achar uma figura masculina atraente nos trabalhos de Frazetta ou do Manara (outro gênio) é um trabalho cansativo. Mais uma vez a gente tem que passar por um monte de mulher pelada até achar o que quer. Eu discuti isso com um grande ilustrador, meu amigo José Ricardo Guimarães, durante sua aula. Eu perguntei honestamente o motivo dos guerreiros dele usarem tanta proteção enquanto as guerreiras sequer pareciam ter frio! A resposta da turma, de maioria masculina, foi de que não era necessário - o mais importante na ilustração é a beleza. Mas e a beleza masculina, gente? Estava ali, nas belas couraças de couro, uniformes e tudo mais que cobrisse os músculos que eu tanto queria ver.



Não falha nunca! Mulher querendo ver homem pelado é uma ofensa! Eu notei que os rapazes sentiram um certo desconforto na minha cobrança. Como eu prefiro viver bem com todo mundo, comecei a protestar contra a nudez feminina desnecessária - argumento esse que não tem a menor força em qualquer forma de arte.

Em minhas incursões pelo erotismo internético eu acabei ficando curiosa para ver como os gregos, romanos, egípcios e chineses tratavam sua arte erótica. Fiquei surpresa com a abundância de orgãos sexuais masculinos. Esculturas, portais, templos, afrescos e muitos vasos mostravam a virilidade do homem antigo. Eles não mostravam necessariamente sua predileção pelo comportamento heterossexual. Mas todos os homens estavam animadíssimos. Eretos, felizes, atentos e representados com grande exagero pelos artistas.

Algumas vezes a representação do órgão masculino dispensava a representação de seu dono. Tais obras podem ser vistas no filme "Gladiador" que retrata de maneira pertinente o presença de vários falos na arena onde as lutas aconteciam.

O órgão masculino passou de símbolo de poder e energia para algo que não deve ser representado de maneira nenhuma por ser (desculpem, tá?) "escroto pra cacete".

A arte erótica continua exposta pelas ruas. Mesmo quando não está em estátuas, mulheres nuas estão em anúncios de carro, maquiagem, telefone,... roupa! A nudez feminina é aceita em plena luz do dia como parte da representação da beleza do corpo humano. A nudez masculina não é bem vista sequer na Escola de Belas Artes da UFRJ. Eu sei porque estudo lá. O nú masculino foi considerado anti-estético, mesmo quando é usado em obras sem teor erótico.

O que será que aconteceu com o pobrezinho do órgão sexual masculino? Será que foi o Cristianismo? As figuras de Michelângelo, apesar de serem representadas com um órgão sexual muito pequeno, esbanjavam sensualidade. Outros artistas de trabalhos considerados eróticos também mantinham o órgão masculino bem longe da atenção das obras. Eis aí um exemplo de um artista que eu não poderia deixar de citar nessa matéria: Giovanni Jacoppo Caraglio. Não foi nem um artista tão representativo da arte erótica, mas esse nome é um barato...


Vejam vocês que era comum que os membros masculinos fossem representados menor do que são na realidade. Sim! Menores! Estes dois artistas citados não são nórdicos nem japoneses. Eles são italianos. Eu conheço os italianos! Isso aí não é realidade.

O curioso é que a representação constante do pênis parecia marcar uma era de valorização do masculino. O "Belo" estava no homem. Hoje, com esta profusão de figuras femininas, o "Belo" certamente parece estar na mulher, mas a valorização não parece estar por perto. A nudez feminina costuma trazer à baila a vulgarização da mulher, e não a exaltação da beleza feminina. E esta exaltação não parece ter acrescentado nenhum valor ao feminino.

Conquistamos um lugar na arte que era dos homens. Não conquistamos o valor que lhes era dado por isso e ainda perdemos a representação masculina na arte erótica.

Ah, Caraglio! Isso não é justo.

Um comentário:

  1. nao é justo mesmo...
    interessante, eu nunca tinha parada pra ver, bom, nada nesse sentido na internet, acho q sou timida demais pra isso...
    muito legal o post!

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