sábado, 17 de abril de 2010

É ruim porque é ilegal ou é ilegal porque é ruim?

Ter opiniões diferentes da Justiça nunca é fácil, mas é por isso que a Justiça existe. Eu acho que seria uma ótima ideia assassinar meu vizinho, mas a lei não permite que eu faça isso. Assim, a vida do meu vizinho está protegida pela lei e pela minha incapacidade de esconder pistas, por mais que eu veja CSI.


Poucos entendem as vantagens da morte do meu vizinho, mas eu posso garantir que não vai haver perda ou dano a nenhum membro da sociedade, além dele mesmo, se ele morrer. Eu posso decorrer por muito tempo sobre isso, mas não vou convencer a todos. Talvez convença poucos. O pior problema é que a ideia de saber que alguém morreu a marteladas, beliscões ou apenas com um tiro certeiro enoja muitas pessoas.

Difícil resistir à tentação de vestir um casaco de chinchila com um pelo gostoso como esse em tom natural de violeta. Só é preciso esfolar o bicho vivo para o pelo não perder o brilho.

Por isso existem sociedades protetoras para criaturas que não são protegidas por lei. Chinchilas, raposas e foquinhas bebês não têm direito à vida legalmente. Caçar animais é condenável, mas não por lei. Pelo menos, não é assassinato.

Mas estes caçadores estão lá longe. Lá no Alasca, lá na Sibéria e marretam suas vítimas com muita discrição. Como evitar que eles continuem atuando? Acabando com a demanda pelo produto final de sua atividade. Não se compra mais casacos de pele.

La Jolie jura que isso é pele falsa.

Fácil falar, mas como convencer uma sociedade acostumada com um produto confortável, bonito e que é sinal de status? Ativistas começaram a pegar pesado para proteger as foquinhas. Primeiro começaram a jogar tinta vermelha em casacos de pele. Depois os próprios usuários começaram a pagar pelos crimes dos caçadores - eles eram tratados como responsáveis diretos da morte dos animais, apesar de serem responsáveis indiretos.

Sair por aí vestindo um casaco de pele exige coragem e alguma explicação ("é da minha avó... é a pele do meu labrador que morreu ano passado... é de mink, mas ele era um bicho muito ruim").

O estilista diz que essas peças foram feitas de outros casacos de pele. Nenhum bichinho que já não estava morto, foi cortado para fazer estas roupas.

Pois é... Mas se você está com o pensamento claro, já sabe onde eu quero chegar.


O resto do seu casaco de pele está aqui.

As campanhas para salvar foquinhas são pavorosas. Mas quando se fala sensibilizar o usuário de drogas a coisa tem que ser vista com muito cuidado. Não se pode ofender quem é vítima da sociedade. Aliás, tem um monte de motivos para usar drogas e só um para parar de usar: tem gente morrendo por causa do mercado que o viciado financia.

Viciado, não!!! Dependente químico que precisa ser compreendido e ajudado.

Com a legalização das drogas, isso seria resolvido, né? O dinheiro, ao invés de ir para o bandido, iria para o governo. COMO É QUE ALGO COMO CRACK E HEROÍNA PODEM SER LEGALIZADOS? Que fabricante vai assumir a qualidade destes produtos?! E quem é que vai querer ser ficar à mercê de processos mais cabeludos dos que a indústria de cigarros - que, caramba, vai bem, obrigado!

Tudo bem, ele não tem dinheiro para comer. O crack é de graça?
Eu também tenho pena dele, mas ele não vai ter pena de mim.

Mesmo que se legalize, vejam o caso de outra droga: o álcool. O Absinto de verdade tinha uns 60% de teor alcoólico. Engasga Gato nenhum, que esteja no mercado, tem mais que 40% de teor alcoólico. Álcool é uma droga legalizada, mas ela precisa seguir certas normas para ir para o mercado. Quem é que vai querer ser usuário de um crack "seguro"?

Ah, mas legaliza só a maconha, que é uma droga mais intelectual - apesar de papo de maconheiro ser a coisa mais estúpida que eu já vi na vida. Aliás, esse papo só pode ser papo de maconheiro, porque uma coisa tão egoísta só pode vir de quem vive num microcosmo mesmo!

Estas imagens não adiantaram contra os tabagistas?
Bom, o PETA não desistiu tão fácil, desistiu?

Não! Vício pelo vício, o usuário não tem motivos para parar. Ele escolheu aquele caminho, ele escolheu lidar com este problema. As leis de trânsito tentam nos proteger da irresponsabilidade dos bêbados. Felizmente ninguém mais precisa respirar o mesmo ar que o colega tabagista. Mas as consequências do uso de drogas, até da maconha baratinha, é um Estado perdido e humilhado por um império instável pra caramba!

Para quem mora no Rio de Janeiro, isso pode ser considerada uma morte por causas naturais.

Não é imoral, do ponto de vista patriótico, ser dependente químico. O álcool causa mais vítimas, mata mais, causa mais vergonha, blá, blá, blá... NINGUÉM LIGA!!!

O usuário de drogas está tendo que lidar com a dor da realidade sobre o ideal e os conflitos internos? Tá bom! Tenta a fluoxetina! Nenhum traficante vende fluoxetina. Tem sob receita na Botica do Rio e em qualquer farmácia de manipulação. Vinte reais um pote com sessenta comprimidos. Causa dependência, não, não sei, DANE-SE!!! Tem um Rio de Janeiro que era lindo perdido e perigoso na mão de gente que consegue dinheiro FÁCIL.

O motivo que leva jovens de classe média e alta a se tornarem usuários de drogas já não me interessa há muito tempo.

O motivo principal da alimentação dessa indústria é egoísta e FÚTIL. Não é o desesperado que movimenta essa máquina - esse vai morrer logo. É o fútil, o irresponsável, o que nem liga para quanta gente morre só para a sua festa não ser um tédio.

Entre a madame que paga o preço de um apartamento num bicho morto - o que é feio, eu admito - e o trocado que o palhaço dá, lá na faculdade, por um pacote de cocaína, é o pacotinho baratinho que está afetando o meu direito de ir e vir. É essa meleca de pacotinho que está contribuindo para um garoto de quatorze anos me ameaçar com um revólver no 234, na subida do Alto da Boa Vista. DESIGUALDADE SOCIAL É A SUA MÃEZINHA! Nós dois sabemos que ele não está roubando para comer.

Este jovem de treze anos, cujo nome foi protegido pela alcunha Fred, disse que no início, apesar de vender ecstasy e LSD, não se considerava traficante.

Eu já sei que antes de poder responsabilizar o dependente químico eu preciso resolver o problema da desigualdade social, do ensino deficiente, da qualidade de vida dos trabalhadores de baixa renda, dos moradores de área de risco e da consciência social da instituição familiar como um todo, além da participação dos pais na conscientização de seus filhos adolescentes. Quer saber? Você não me convence mais.

Tropa de Elite foi um barato que se distribuiu sozinho, fez seu marketing sozinho e virou febre. Nem o Padilha nem o ator Wagner Moura gostaram da ideia de ver Capitão Nascimento como um herói nacional, mas não foi a mídia que formou essa opinião, foi o saco cheio do povo.

Dane-se o sociólogo e dane-se o Capitão Nascimento. Eu odeio quem mata bichinhos para usar casacos bonitos e eu odeio quem sobe morro para levar dinheiro para bandido só para não ter que encarar a própria chatice.

Patrocinador do tráfico de drogas, eu considero você responsável pela consequência final dos seus atos. O que eu puder fazer para te causar embaraço até que você financie outra indústria menos destrutiva, eu farei.

A propósito: se por um milagre as drogas se tornarem legais e o tráfico tiver que vender bala Juquinha genuína para viver, eu volto a falar contigo numa boa...

... e boicoto bala Juquinha.

4 comentários:

  1. Hoje a pessoa compra um molho de coentro ou de salsinha por x centavos, não chega a R$1,00, e como é barato, nem todo mundo planta. Portanto, a partir do momento em que qualquer pessoa puder plantar um ou mais pés de maconha no seu jardim ou quintal, a mesma perderá o seu valor e, consequentemente, acabará com o tráfego, tanto da droga, como também, o de armas, pois sem tráfego não haverá guerra, isso porque não haverá gangue. Não faço apologia ao crime, mas, concordo com a legalização das drogas, pois, se já temos o álcool e o cigarro, seria apenas mais algumas gerando impostos.

    Perdoe-me, mas é esta a minha opinião.

    Beijos e ótima semana pra ti e para os teus.

    Furtado.

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  2. Valeu, Rosemildo. O que aquece meu coração é alguém ler o que eu escrevo, mesmo que seja uma droga (ops!).

    Quem lida com adolescentes cujas respostas são em 80% das vezes "tanto faz" e "pode ser", ouvir opinião é uma delícia.

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  3. Faço destas minhas palavras:
    "Eu odeio quem mata bichinhos para usar casacos bonitos e eu odeio quem sobe morro para levar dinheiro para bandido só para não ter que encarar a própria chatice.
    "
    Além disso odeio ser vítima da violência de tráfico que EU não financio!!!

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  4. Oi Paty! nunca pensei que um dia iria ficar no lado negro da força, quando terminei de ler seu texto, pensei, é não é que Lucifer tinha razão?! como Deus pode perder tempo com a raça humana?! Bem não sei se a historia entre Lucifer e Deus foi exatamente assim, o que sei é que tenho muita vergonha de pertencer a raça humana, embora não use drogas e muito menos exploro animais pra ficar na moda e chique! mas a sensação é horrível. Parabéns por vc escrever o que eu sinto. Beijos Mil

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